segunda-feira, 15 de junho de 2009

Acompanhe relatos de pessoas que já passaram por essa situação constrangedora

21.10.2007
Assédio moral no trabalho

“É uma violência tão invisível que eu não percebia. A ficha só caiu mesmo quando ele fechou o meu local de trabalho”, conta um ex-diretor vítima de assédio moral.

“A minha sala estava trancada. Eu perguntei a um funcionário o que estava acontecendo. Ele falou assim: ‘não, você não tem mais sala aqui. Ela disse que eu poderia ficar encostado em qualquer lugar dentro da empresa. Mas que a partir daquele momento eu não teria mais local de trabalho”, conta o vendedor de planos de saúde Deusdete Campos.

Um empregado que é humilhado pelo chefe está sendo vítima de assédio moral. E isso é muito mais comum do que parece.

“O assédio moral é como uma praga. Ele não poupa nenhuma profissão, ele não poupa sexo - ele incide sobre mulheres, incide sobre homens, e ainda mais sobre mulheres de cor de pele negra”, diz o psicólogo Roberto Heloani.

A CLT, que é o conjunto de leis que regula as relações entre empregador e empregado, não menciona diretamente o assédio moral. Mas, desde o final da década de 90, a justiça do trabalho vem aceitando causas sobre assédio moral.
E são essas sentenças dos juízes que estão servindo de base para futuros processos.

“Meu nome é Wenderson, eu trabalhei durante dois anos e meio numa empresa de telemarketing, movi uma ação devido ter sofrido uma pressão dentro da empresa, ser assediado moralmente. Durante a jornada de seis horas e quinze minutos, era só cinco minutos para a gente poder ir ao banheiro. E mesmo assim, a gente tinha que ficar de olho no supervisor, que alguns supervisores usavam um bicho de pelúcia para indicar se a gente podia ir ou não ao banheiro. Se o bichinho de pelúcia estivesse em cima do computador, a gente podia ir no banheiro. Se estivesse fora, a gente não podia levantar da posição de trabalho”, conta o vendedor Wenderson Ezequiel.

O assédio moral ocorre quando um chefe abusa do poder do seu cargo para humilhar um subordinado de maneira constante e contínua. Essas duas palavrinhas são importantes: constante e contínua. O assédio moral não é uma única explosão de mau humor por parte do chefe. Não é algo que acontece de vez em quando.

“O assédio pode começar de uma maneira até muito sutil. Ele pode começar com pequenas ironias, pequenos apelidos, insinuações”, explica o psicólogo Roberto Heloani.

“A cada dia, eu imaginava que na semana seguinte ou no mês seguinte o assunto seria superado.As maledicências, as piadinhas, vão crescendo. Até que chega um ponto em que perde totalmente o controle”, conta a vítima de assédio moral.

“O assediador tem a intenção de desestabilizar a vítima”, aponta Adélia Domingues, procuradora do Ministério Público do Trabalho.

Por exemplo: o chefe que grita em vez de falar. Que chama o subordinado de burro na frente dos colegas. Estabelecer metas impossíveis de serem cumpridas.

O chefe que isola o subordinado num canto, e não permite que ele converse com os colegas.

“A sua memória fica prejudicada. O sono fica extremamente prejudicado também. Começa a ter transtornos alimentares. A sua libido também começa a decair. Vai tirando da pessoa a vontade de viver. Ela vai definhando”, enumera Heloani.

“Era um terror pra mim. Trabalhei numa empresa em Divinópolis, Minas Gerais, por cinco anos e meio, fui assediado moralmente pela direção da empresa por um período prolongado, de uma maneira desumana, antiética”, conta Deusdete Campos.

“Esta pessoa era sua coordenadora. Ela começou te ofendendo, falando alto com você?”, pergunta Max.

“Desde o início. Deu para entender que ela não gostava da minha pessoa. Ela dizia para os colegas de trabalho que ela ia conseguir demitir a minha pessoa por justa causa. Mas chegou um dia que chegou ao limite máximo. Eu recebi um elogio nacional, porque eu implantei a alfabetização de jovens adultos na empresa, e a partir desse dia, a determinada diretora começou a dizer que eu estava querendo aparecer. E se tinha alguém que tinha que aparecer na empresa seria ela, e não eu”, conta Deusdete.

“E aqueles, os seus pares muitas vezes, que outrora lhe apoiavam, começam a o quê? Apoiar o assediador ou os assediadores. É claro que não vai conseguir fazer, porque ele está doente”, aponta Heloani.

Quem está sofrendo assédio moral deve acumular provas. Registrar datas e guardar receitas e atestados médicos.

“São já quase sete anos do desfecho final, a demissão, e até hoje eu sou ainda medicado, com três medicamentos diferentes”, conta a vítima.

“Nunca converse com o assediador em particular. Se o fizer, faça em companhia de alguém que você confia, que possa vir a ser testemunha”, aconselha Heloani.

A primeira denúncia deve ser feita à empresa. E só depois deve ser procurado o caminho judicial.

“Resolvi, no final de 2003, a entrar com uma ação na Justiça do Trabalho”, diz Deusdete.

“Ganhei em primeira instância, e hoje trabalho numa outra empresa”, diz o vendedor Ezequiel.

“A coordenadora foi afastada da empresa, eu hoje sou coordenador de um centro de promoção à saúde. Aprendi muito com tudo isso. Principalmente de não ser igual a ela”, comemora Deusdete.

Não vai acabar no dia seguinte, por si só não acaba, é preciso que a pessoa tome uma decisão de que aquilo tem que acabar, e que as empresas fiquem um pouco alertas e façam algum tipo de pesquisa interna, para ver se isso não está acontecendo com elas. E esse é o melhor caminho. A prevenção agora para evitar a condenação depois.

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